domingo, 1 de setembro de 2019

Renata tinha uma filha de 13 anos que tinha epilepsia . As crises convulsivas eram o que mais preocupava Renata . A sua filha se chamava Lia . Antes de ir pra escola tomava remédios muito fortes , o que fazia se desconcentrar nos estudos .Os alunos a tratavam com uma certa distância pela doença que ela tinha .Ela não tinha muitos amigos , porque nenhum deles sabia quando seria sua próxima convulsão e não queriam ficar perto dela .
Sua mãe já não sabia o que fazer até que começou a procurar tratamentos alternativos . Se informou bastante e leu vários depoimentos de que a cannabis ou o uso da maconha reduziam as convulsões .Estava comprovado cientificamente e os resultados positivos eram maior do que se esperava . Renata leu vários artigos científicos de outras pessoas que melhoraram e decidiu experimentar o tratamento com um médico confiável .
Chegando do hospital com o remédio da cannabis que era em gotas , chamou a filha Lia para tomá-lo .
Lia tomou o remédio sem oferecer resistência .
Durante um mês ela não teve nenhuma convulsão .
Renata via o comportamento da filha que estava alegre e ativa e se orgulhou do tratamento ter respondido as expectativas .
Lia foi ao colégio se sentindo uma outra pessoa . As convulsões passaram e ela se sentia pronta pra se reassociar com os alunos da escola . Antes vivia com medo de ter as convulsões e se isolava da turma .
Entrou no colégio feliz e confiante , cumprimentando os alunos , que logo notaram sua diferença :
-Você está ótima -disse um aluno
-Estou tomando cannabis sativa em gotas , receita de homeopatia que meu médico receitou . Melhorei muito .
-Que bom .Nós nunca sabíamos o que pensar quando vc tinha suas crises , tentavamos ajudar ao máximo mas não sabíamos o que fazer .E vc acabou se distanciando cada vez mais .Você falava pouco . Agora está alegre e confiante com esse sorriso nos lábios . Espero que na aula voce não sente tão distante de nós .-disse Vitor , seu colega de classe.
Lia colocou uma foto nas redes sociais do remédio que estava tomando , explicando que melhorou definitivamente das convulsões .
Alguns alunos foram cumprimentá-la mas outros ficaram contra
"Então é assim ? Fica doente e fuma maconha ? Que vergonha . A mãe dela é uma louca em transformar a filha em maconheira ."
Lia estava na classe assistindo a aula quando ouviu sussurros da mesa atrás dela :
-Maconheira -dizia a aluna em tom de deboche -Tá viajando com o que ?
Lia não respondeu .
Na hora do intervalo para o lanche Lia estava cercada de alunos curiosos que derramavam perguntas sobre ela na cantina .
-É verdade que vc virou maconheira pra diminuir a epilepsia ?
-Remedinho bom , como eu faço pra comprar ?
-Vc deve estar bem doidona.
Os alunos fizeram um coro gritando Maconheira , Maconheira , Maconheira .
Lia saiu da cantina segurando seu café e foi para o jardim do colégio . Alguns alunos estavam jogando voley . Lia resolveu jogar com eles , mas na primeira vez que errou um saque ouviu das meninas da equipe
"Muita maconha dá nisso , saia do jogo , nós não queremos maconheira aqui "
Lia se retirou da quadra e chorou um pouco .
A diretora da escola queria falar com ela .
Lia entrou na sala da diretora desolada . Ela já sabia o que ela ia dizer .
-Quer dizer que sua mãe te dá maconha medicinal pra tratar sua epilepsia ?-perguntou a diretora com seu ar sério
-Procuramos um tratamento alternativo , os remédios tarja - preta agrediam muito meu corpo . É maconha medicinal , não é para uso recreativo .Ajuda a abrir o apetite , eu não tenho comido muito .
A diretora se levantou da cadeira e passou as mãos na cabeça:
-Não consigo concordar que uma mãe ofereça maconha pra filha . Isso é inadimissível .Existem outros remédios do que a maconha .Vou ter que confiscar seu remédio .
A diretora abriu a palma da mão enquanto Lia entregava o remédio de cannabis pra ela .
Ao terminar a aula e chegar em casa , Renata , mãe de Lia perguntou se estava tudo bem.
-A diretora me mandou entregar o remédio da cannabis pra ela e todos os alunos estão me chamando de maconheira na sala de aula .
-Você explicou que é pra uso medicinal ? -perguntou a mãe de Lia
-Expliquei , mas eles não deram ouvidos . De agora em diante eu sou a maconheira da escola .
A mãe de Lia foi até o colégio dela pra falar com a diretora :
-Dona Genova , devolva o remédio da minha filha .
-Joguei fora . Não permitimos drogas de qualquer espécie nesse instituto .Ela pode incentivar os alunos a fazer o mesmo .
A mãe de Lia pensou um pouco . Sua filha poderia tomar o remédio no banheiro com a porta trancada e não contar pra ninguém .Ao mesmo tempo ligou para o médico alternativo da filha e pediu para que ele falasse com a diretora da importância do remédio .
A diretora foi intrangisente e severa . Disse para que Lia fizesse o tratamento sem ser na escola .
Renata saiu contrariada . Pensou que os alunos da escola fossem compreender sua filha , mas agiram com preconceito .
Lia estava sofrendo com o preconceito dos alunos e resolveu parar de tomar os remédios .
Depois de quinze dias teve uma convulsão a ponto de se debater no chão e enrolar a língua no meio do pátio da escola . Os alunos achavam que ela ainda tomava o remédio da cannabis e atribuiram a culpa ao remédio .A mãe de Lia foi avisada e foi buscar a filha no colégio .
Diante dos alunos que estavam ali em volta ela desabafou :
-O uso da cannabis estava ajudando minha filha . Ela parou de tomar por causa do preconceito de vocês .Está faltando informação . Isso não é maconha pra diversão , isso é um remédio da cannabis em gotas , não altera a mente .
Renata pingou cinco gotas do remédio em Lia e logo depois ela despertou .
Os alunos ficaram surpresos enquanto Renata levantava Lia , perguntando :
-Você quer continuar a assistir as aulas ?
-Sim , quero -disse Lia -obrigada , mãe por ter vindo aqui .
Renata deixou o remédio da cannabis com Lia e um dos alunos contou pra diretora. A diretora confiscou o remédio outra vez .
"Aqui não é lugar de remédios como esse , tome quando chegar em sua casa "
Alguns dos alunos resolveram se pronunciar
-Ela melhora com esse remédio . Teve uma convulsão séria e esse remédio a ajudou . Eu e outros alunos vimos com nossos próprios olhos .
-Nessa escola não aceitamos maconha nem drogas de nenhuma natureza -disse a diretora -É muito óbvio se sentir bem depois de tomar drogas , mas o tratamento deve ser com remédios e não com drogas .
A diretora teve o apoio da maioria dos alunos . O que dedurou pra diretora que a mãe deixou o remédio com a filha desabafou :
-Essa mãe é uma louca de oferecer maconha pra uma filha epilética .Epilepsia é muito sério , não se trata com maconha .
No bairro onde Renata morava havia mais preconceito . Renata era conhecida por dar maconha pra filha fumar , algo que era considerado um escândalo na casa de vila onde morava .
Lia estava triste com o bullying na escola , seus amigos se afastaram dela , ou se referiam a ela como maconheira durante toda a aula por muitos alunos . Alguns alunos que repetiram o ano a chamavam pra pular o muro da escola e fumar um baseado , mas ela recusava . Só usava seu remédio .
Ao chegar em casa desabafou com a mãe que não queria ir ao colégio no dia seguinte .Ela precisava tomar seu remédio durante a aula pra não ter crises e a diretora confiscou o remédio da cannabis de novo .
Renata decidiu chamar um advogado e procurou em sites da internet mães e filhas que passaram pelo mesmo que ela .Conseguiu armar um encontro e todos foram na escola no dia da reunião de pais e mestres .
Renata e as outras mães explicaram a situação de seus filhos e o advogado entrou na justiça para que Lia tivesse o direito de tomar o remédio na escola .Depois de muita informação e explicação sobre o uso da cannabis para combater a epilepsia uma das mães que também era adepta ao tratamento desabafou :
-Você sabe da preocupação extrema que é ter uma filha que pode ter uma crise de epilepsia a qualquer momento ? Vocês gostariam de ver seus filhos se debatendo no  chão e enrolando a língua como se fossem morrer ? Meu filho toma remédios desde pequeno , mas os remédios tem muitos efeitos colaterais .A ciência comprovou que a cannabis reduz as crises e a dor .Tenho certeza que se fosse com o filho de vocês ,também procurariam um tratamento alternativo .
Renata complementou :
-Eu tenho a justiça do meu lado que me permite tratar minha filha com cannabis .É muito preconceito por causa da falta de informação . Minha filha não é maconheira e eu não sou louca por trata-la com cannabis .
Renata passou a palavra ao advogado que colocou fim a conversa:
-Ela tem direito garantido na justiça e pelos médicos por usar a cannabis . A administração da escola não pode impedir isso .É o tratamento que ela necessita .
Os outros pais pareciam conformados com o discurso .
A diretora devolveu o remédio da cannabis para Lia , que agradeceu diante do sorriso contrariado da diretora .
No colégio o bullying foi parando com informações .
O professor de História e de Biologia também elogiaram o remédio que Lia tomava .
Quando Lia foi até a cantina do colégio algumas provocações surgiam :
" A doença dela só melhora com maconha . Imagina se a moda pega "
"Conseguiu o direito de usar maconha dentro da escola .É muita cara de pau"
" Mãe dando maconha pra filha , que bizarro . Sua mãe é louca "
Lia não respondia as provocações e quando chegou em casa viu a mãe numa confusão com os vizinhos
-Você é uma mulher louca que droga sua filha , nada do que vc me disser interessa -gritou uma vizinha
-Com tanto remédio foi escolher maconha ? -sua folgada , vagabunda -dizia mais um vizinho
Lia puxou a mãe pra dentro de casa e trancou a porta .
Decidiu não tomar mais a cannabis e não avisou a mãe. Não queria esse preconceito todo recaindo sobre ela e sua mãe .Decidiu tomar os remédios que comprava na farmácia.
Quando foi ao colégio anunciou a todos que não estava mais tomando cannabis .
-Que bom -disse a maioria -deixa essa maconha pra lá .
A maioria dos alunos foram abraçá-la pelo gesto de largar a cannabis , dizendo que não era uma boa opção .
Tudo que Lia queria é que o bullying contra ela parasse . Não queria ver a mãe sendo vitima de preconceito e não queria ser tratada como a maconheira da escola .
Lia ficou 1 mes sem tomar o remédio da cannabis e estava se sentindo bem com os outros remédios .
Houve um campeonato de voley na escola e Lia chamou sua mãe pra assistir .
Pouco depois de 30 minutos de jogo Lia teve uma crise de epilepsia na quadra de voley .
A mãe correu para quadra e a diretora chamou a ambulância .
Era tarde demais . O ataque de epilepsia foi muito intenso e Lia não resistiu ao caminho do hospital .
Renata soube pelos alunos da escola que ela havia parado de tomar a cannabis e contou isso pra toda escola .
-Não contou pra mim -disse Renata em prantos
-Ela não queria mais sofrer bullying ,nem queria que a senhora sofresse também , dona Renata . Por isso parou de tomar a cannabis .-explicou um aluno
Renata enterrou sua filha com muita dor . Ao voltar pra casa os vizinhos não tiveram compaixão
" Deu tanta maconha pra filha que ela morreu "
" Matou a filha com essa história de dar maconha pra ela "
" A maconha não ajudou em nada , essa mãe tinha que ser presa "
Renata não ligou para a agressividade dos vizinhos .
Entrou na sua casa e comunicou a noticia para o grupo de defensores da cannabis que levou até a escola meses atrás e se tornou uma ativista importante na defesa da maconha para uso medicinal .Foi em alguns programas de tv contar sua história  .Depois foi ao colégio onde a filha estudou procurando a diretora . Quando ela apareceu Renata deu um tapa na cara dela .
" Isso é por você ter confiscado os remédios da minha filha , vc prejudicou o tratamento dela , sua irresponsável , sua víbora "-gritou Renata , deixando a diretora sem palavras .
Renata saiu do colégio sentindo uma grande dor pela perda da filha e todo preconceito que sofreu .Resolveu que sua missão era ajudar outras filhas como a dela e recebeu um convite para dar uma palestra sobre os benefícios da cannabis .Contou a história de sua filha e deixou a platéia comovida . Ganhou o aplauso e o consolo da platéia . Apesar do luto pela filha ela percebeu que não estava sozinha e ganhou forças para continuar sua luta .

Nenhum comentário:

Postar um comentário